Olá! A Criada foi o conto de Clarice Lispector escolhido para o mês de Outubro!
E, UAU, que conto doído. Sério, doeu um pouco ler e refletir.
“A Criada é uma história de Eremita, uma doméstica, muito jovem (19 anos), mas desacreditada. Realizava seu trabalho de forma mecânica, sem brilho. Possuía uma tristeza profunda, mal se preocupava com sua beleza e juventude. Levava a vida resignada, pois “estava bom assim”.
Às vezes se perdia em meio a pensamentos e tristezas e “viajava”, não se sabe para onde, e, quando caía em si, retornava de onde chamava de floresta, um pouco melhor. Mas não importava de fato para onde ela ia, sempre seria vista pelos demais como a moça que limpava a casa.
Esses sentimentos lhe fazia comer pão compulsivamente e furtar de sua patroa. Era seu mecanismo de fuga.”
É um conto aparentemente simples, mas com uma complexidade absurda. Precisei ler várias vezes para ir compreendendo e, cada vez que lia, mais dava um nó na garganta.
Eremita representou, para mim, as mulheres, jovens ou maduras, que não acreditam em si, não foram criadas para seguirem seus sonhos, como se dissessem: “a vida é assim para você e não há como mudar. Ponto final!”
A criada, na minha opinião se torna um trocadilho: criada por profissão e criada pela forma como a criaram. Já foi acostumada com a vida dura, sem sonhos, sem perspectiva de melhora.
Seus perdidos em pensamentos são como sua fuga da realidade, acredito que ela ficava pensando numa vida melhor, fazendo algo pelo qual ela sonhava, se via linda, feliz, mas não podia. Dói um pouco pensar que muita gente (digo tanto para mulheres quanto para homens) foi condicionada a pensar que nada pode mudar.
Enquanto lia o texto, veio na cabeça a música Janaína, do Biquini Cavadão. Quem lembra?
Janaína acorda todo dia 4:30, e na hora de ir para cama ela pensa que o dia não passou, que nada aconteceu (…) Mas ela diz que, apesar de tudo, ela tem sonhos, ela diz que um dia a gente há de ser feliz…
Uma música pensada pelo mesmo propósito. E, infelizmente, no mundo existem muitas Eremitas e Janaínas.
O triste é a compulsão pelo furto, comida, e, muitas das vezes as drogas (lícitas e ilícitas). Atitudes que acabam prejudicando a saúde, a si mesmos.
Torço muito para que isso mude, que, devagar, uma por uma, consiga se reconhecer, batalhar para mudar e ser feliz.
Só para constar: ser doméstica é uma profissão linda, merece reconhecimento e respeito. Adoro quando uma família a trata como membro da mesma, reconhece seu valor e demonstra gratidão por cuidar de sua casa e família. <3
Conto retirado do Blog Clarice Lispector!!
Mas e vocês, o que acharam? Comente aqui em baixo o que pensou sobre o conto.
Beijo no coração!
femariaotoni
Amo Clarice, parece que ela lê a nossa alma…
Parece comigo até esse conto, um pouco né porque não sou doméstica.
Minha familia acredita que só batalhando,ralando muito e tendo uma boa dose de sofrimento se consegue algo, é tipo;
Se eu começar lá de baixo, trabalhar duro dia após dia ai então eu vou poder conquistar algo…sempre achei isso tão errado, tão horrível, me dói tanto ver as pessoas voltando para casa a noite, cansadas, trabalharam o dia todo, acostumadas, acomodadas.
Mas me sinto culpada por estar parada em casa, me culpo pensando que poderia estar ajudando meus pais, que poderia contribuir, que se eu tivesse trabalhando em algo mesmo que o emprego seja péssimo talvez eu tivesse já minha independência financeira e não sei se é a depressão, medo, panico ou o que mas eu simplesmente não consigo.
Quando fui trabalhar no Telemarketing no curso para aprender o serviço eu chorava todo dia, me obrigava a ir e fui até o fim, passei, mas na hora do vamos ver,aquela tela preta, as informações rápidas demais eu me perdi, me confundi e quis sair dali e sai, eles até tinham algo mais simples mas o horario era péssimo, basicamente eu ia ganhar um salario só para trabalhar.
Agora nem isso consigo, eles pedem experiência e hoje como ando mal nem tenho visto, sei lá, meio que perdi a esperança, meio que não sei o que fazer se nem mesmo estudar algo eu consigo…
Pessoas como eu não são vistas na sociedade, são ignoradas e esquecidas e qualquer palavra que tentem são ditas como chatas, reclamonas, ficam de mimimi e por ai vai, porque pessoas como eu não aceitam o mundo como ele é.
Meus pais acham errado, dizem que tenho que aceitar, que eu não posso fazer nada … a maioria pensa assim,
Por isso aqueles vizinhos barulhentos e briguentos continuam ganhando terreno e fazendo o que bem querem, por isso a justiça não anda, por isso temos tanta pirataria, por isso nada muda, porque as pessoas acreditam que elas não podem fazer nada, não entendem que juntas tem um poder gigantesco…
Falei demais hahahaa sorry
Amo Clarice, adorei o texto
Bjs
Priscila
Acho legal quando um post causa uma reflexão em alguem. E Clarice faz muito disso na gente, né? Mas infelizmente a vida é assim, e nao é uma questão de conformismo, e sim de compreensao, pq de que adianta reclamar e nao mudar, né? Quando a gente compreende tem cabeça melhor pra mudar, pois brigar nao adianta, e fazendo a nossa parte que resolve, com pequenos atos. Sei como é dificil ser visto como reclamona, as vezes eu mesma me acho chata por isso, mas tem o lado positivo que faz a gente reclamar menos e agir mais. Acho que vc precisa de um empurrao, um dia maluco e ir sem pensar, mesmo que nao der certo vc pelo menos fez. Se eu morasse perto de vc ia te levar pra procurar emprego, quando me formei tinha muita vergonha e um amigo meu foi comigo levar curriculo, foi muito engraçado e agora faço tudo sozinha. , sim, estude, faz falta e dá certo. Já falei pra vc estudar botanica rs
Bjs floooor
Leslie Leite
Eu não conhecia esse conto, achei a ideia super interessante, cheia de elementos para refletir.
Vou procurar ler esse conto, creio que vai me agregar muita coisa.
Beijo, http://www.apenasleiteepimenta.com.br
Priscila
Leia sim, vale muito a pena refletir. É do tipo para ser lido infinitas vezes. Obrigada pela visita.
bjs floooor
Devaneio e embriaguez de uma rapariga - Clarice Lispector | Carioca do Interior
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